29 de setembro de 2010

O mundo que nos aproxima

É estranho andar pelas ruas de qualquer cidade um pouco mais populosa. Sente-se no ar uma solidão conjunta, que parece afetar a todos - na verdade não é fácil precisar se são passos solitários ou se apenas se portam, as pessoas, de forma indiferente quando andam pelas vias.
Um rítimo caótico que se mascara na trilha sonora personalíssima de cada player que carregam, eles, consigo. Esse abismo que nos aproxima, por cabos e fibras, com ondas e luzes - letreiros que hoje se entranham em suas mochilas para uma comunicação mais ágil - acaba por distanciar o toque.
Lançando mãos dessas tecnologias, eles se perdem, se excluem, se afastam; pensam, porém, estarem se aproximando. Homens e mulheres revezam-se nas obrigações, ao mesmo tempo que se ajudam, perdem o tempo em companhia.
Raras vezes as pessoas se convidam para uma visita às suas casas. Muito mais incomuns os momentos que, face à uma visita, realmente se disponibilizam a se encontrarem. Mas aos poucos essa consciência se aflora.
Aquele que vem de encontro a esse, responde com um tímido inclinar de cabeça, o que achou ser um cumprimento. Os outros se esbarram, talvez pela necessidade de um pedido de desculpas. Dessa sorte, as músicas vão dando espaço ao monólogo, que chama atenção do próximo. O balbuciar atrai este, que por desespero se inclina, como ao suplicio de um entendimento mais inteligível. É a distância que nos aproxima. É o meu olhar que te conquista, para que deixe, por um momento, sua individualidade.
Nossos mundos se chocam, e paulatinamente, se tocam. Num instante, toda estranheza cessa, e a termo vem a solidão, causalidade de um simples desespero de estar sozinho.

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